Um dos cartazes da exposição avisa: "Existem tantos neurônios no seu cérebro quanto estrelas na Via Láctea" --o número é da ordem de dezenas de bilhões. A comparação é um bom jeito de retratar a neurociência como uma das "fronteiras finais" do conhecimento humano, junto com o espaço, e ajuda a dar o tom certo de aventura à mostra "Cérebro: O mundo dentro da sua cabeça", que estreia hoje em São Paulo.Criada por Peter Radetsky, da Universidade da Califórnia em Santa Cruz, junto com centros de pesquisa americanos como o Instituto Nacional de Saúde Mental, a exposição também deixa claro outro ponto central das descobertas sobre o cérebro: nada é o que parece.
Cérebro humano real, com 1,4 kg, apresentado no interior de bolha com alegoria elétrica que vai estar na exposição em São Paulo |
A começar pela coletânea de cérebros de verdade de uma série de espécies animais, de patos a babuínos, passando por tubarões e até dinossauros (graças a um molde da parte interna do crânio). O órgão dos golfinhos é o que mais se assemelha aos dos humanos na quantidade de dobras --indicador importante de sua complexidade-- e, de quebra, ultrapassa o das pessoas em massa (1,7 kg contra 1,4 kg, em média). O cérebro humano, perto do de muitos animais, é grande -mas tamanho não é tudo.
Menos é mais
Outra reviravolta da neurociência que vai contra o senso comum: perder neurônios é tão importante quanto mantê-los para a inteligência.Como a mostra revela, o pico do surgimento dessas células em seres humanos é na gestação (250 mil novos neurônios por minuto). Depois, a exuberância é podada, e só as conexões e células mais fortes e úteis sobram.A "seleção natural" dos neurônios e das sinapses (ligações nervosas) é complementada pela seleção natural propriamente dita e outros processos evolutivos. Eles tanto ajudaram a moldar a capacidade cerebral humana quanto mostram, de forma inequívoca, a semelhança entre a mente de pessoas e a de animais. Girando uma manivela, o visitante pode "descascar" um modelo do cérebro e ver as camadas evolutivamente antigas do órgão.Do elo com os bichos, aliás, vem um dos momentos mais interessantes da mostra: um vídeo com jovens chimpanzés se reconhecendo no espelho --e se divertindo muito ao fazer caretas ou examinar os dentes.Para pequenos humanos, essa diversão é complementada pela interatividade da exposição. É possível aprender sobre reflexos colocando a mão numa placa de metal quente, testar a noção de equilíbrio e jogar uma espécie de pebolim gigante que ensina como os sinais elétricos caminham pelo cérebro.
SERVIÇO - A mostra está no Porão das Artes (Pavilhão da Bienal, Parque do Ibirapuera) de segunda a domingo, das 9h às 21h (entrada até as 20h), e fica até 25 de outubro. Ingressos inteiros custam R$ 40.
Folha Online - Por Reinaldo José Lopes
Link:http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u606361.shtml
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